- Pobre de mim !
Pensava com seus botões a boneca que fora esquecida pela menina de caixinhos cor de ouro,que com ela tanto brincou. Agora sozinha, esquecida na prateleira do quarto, cercada pelos livros, fotos e cd's - que agoralhe fazia companhia- se lembrava com uma saudade imensa dos momentos que havia passado com a menina. Lembrava-se da primeira da primeira vez em que viu a menina, foi numa noite de natal - onde luzinhas brilhantes piscavam na varanda e um papai noel cantava e dançava Macarena - e ela, esperava debaixo da árvore, na pequena caixa de papelão embrulhada num papel vermelho com um laço de fita verde, agurdava ansiosa a a hora dos presentes serem abertospara finalmente poder conhecer sua nova dona/amiga/companheira. Se lembra da emoção que sentiu quando a menina abriu o embrulhoe que de tanta felicidade quase perdeu a fala, viu os olhinhos verdes da menina brilhando como se ela - a boneca- fosse uma joia preciosa. Sentiu pela primeira vez o calorda menina , quando essa, a tomou em suas mãos e com um carinho quase maternal a colocou no colo. Lembrava-se com saudade das noites em que a menina, com medo da chuva ou do bicho papão a abraçava com toda a força, como se a ela fosse capaz de protegê-la de todo o mal. Mais saudade sentia das horas que passavatomando chá e comendo biscoitos imaginarios, dos passeios pelo jardim no carrinho de bebê, das aulinhas de matematica, e ate das broncas por ter derramado o chá,por não comer toda a comida,por ter sujado o vestido e ate por ter errado a soma de dois mais dois que a menina/mão/professora insistiaem dizer que eram cinco. Sentia falta do mundo de fantasia da menina, das histórias que a grande imaginação da pequena criança criavam. Ela havia viajado para o mundo das fadas,princesas e pôneis encantados tantas vezes que ate perdeu a conta. Lembrava-se do dia que a menina a deixou no sofá e Maz- o cachorro- arrancou sua pequena perninha de napa. Lembrava-se do desespero e do choro da menina ao ver sua boneca estraçalhada no tapete da sala; nada que sua avó - uma doce velhina de cabelos grisalhos, óculos redondos e cheiro de maça verde - não resolvesse com linha e agulha.
Foi sua fiel esculdeira durante vários anos. Mais aos poucos, a menina começou a deixa-a de lado.
- É, minha menina esta crescendo! pensava.
A boneca tinha razão, a menina estava crescendo. Os vestidos rodados já não mais no corpo em transformação. Esquevida na prateleira, a boneca viu sua menina se tranformar numa moça. Viu quando ela ganhou seu primeiro sutiã, a primeiro menstruação,soube- pelo diario- quando a menina deu o seu primeiro beijo e até sentiu ciumes quando a menina trouxe pra casa o seu primeiro namorado.
- E agora ? o que sera feitos dessa pobre boneca de pano? argumentava a boneca - Ninguem mais vai quere uma boneca velha pra brincar!
E quandoa boneca parecia ter perdido a esperança, ela houve a porta batendo, passos pressados subindo a escada. Era a menina que acabara de entrar em casa aos prantos.
A boneca nada pode fazer, a não ser observar a menina chorando, deitada na cama , com o travesseiro no rosto.
- Ah, minha menina, o que houve contigo? qual o problema ?
Mas a menina não ouvia mais a voz da boneca. Era como se durante o seu crescimento, a menina fosse ficando surda,e não mais ouvia a boneca, com quem durante anos tanto conversou.
O pequeno coração de napa da boneca foi ficando cada vez mais apertado, vendo sua menina chorandosem nada poder fazer. Foi ai que teve um idéia. A boneca juntou toda a força que ainda lhe restava e se jogou da prateleira. Foi um tombo feio, sentiu o impacto ao cair no chão, mais ela não se importava com a dor - dor essa que era maior do quena vez em que Max lhe arrancara a perna- pois seus pensamentos estavam inteiramente destinados a menina.
A menina se assustou quando viu a pequena e fragil bonecano chão.
- Ora! falou a menina. - O que esta fazendo ai no chão boneca de pano ?
A boneca nada respondeu, estava muda - como sempre foi- mais isso não era importante, pois sabia que a menina a ouvia com o coração.
A menina pegou a boneca e a abraçou.
- Como antigamente! vibrou a boneca.
Mas seus pensamentos foram intenrrompidos pela menina, que começou a contar o que havia acontecido. Ela estava magoada e com o coração partido por um garoto que não soube lhe dar o devido valor. E a menina fala, falava, falava -só parava de falar para enxugar as lágrima que insistiam em descer pelopelo seu rosto.
Era como se a menina não tivesse crescido, estava fazendo como antigamente, como na vez em que a menina teve a sua primeira perda -quando seu peixinho dourado morreu - a menina chorava e desabafava com a boneca, falando da falta que sentia do pequeno peixe. E agora estavam ali, deitadas na cama. Uma abraçada a outra. Como se a dor de uma ajudasse a curar a dor da outra.
E a menina se sentiu boneca, a boneca se sentiu menina. No mesmo instante que a menina era outra vez menina e a bonecaoutra vez boneca.
Priscila Rodrigues.
Perfeito!
ResponderExcluirSeguindo!
Faça o mesmo!
Bjos
Brigadaa !
ResponderExcluirSeguindo tanbeein ;D
Beijokas
Lindíssimo Pry!!!
ResponderExcluirAté abracei a minha boneca de pano!!!