A menina de pano e palavras descobriu-se cheia de estrofes, travessuras e travessões !

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Faxina.

' Meu museu em obras (♪) tm'


Acordei cedo, numa manha nublada de domingo em que não havia nada para se fazer. E começei a pensar na vida, me lembrei de pessoas, coisas, fatos que estavam presentes do meu passado. Foi ai que decidi fazer uma faxina, é, uma f-a-x-i-n-a.
Abri o armário da minha memória e me assustei com tanta bagunça! Como pode caber tantar coisa dentro de um pequeno armário?. Puxei a primeira gaveta; nela estavam guardadas as lembranças da infância, a primeira palavra, os primeiros passos, a boneca preferida, percebi o quanto era bom ser criança, pois quando se é criança não se tem preocupação com horários, tarefas, responsabilidades. Ahh, quanta saudade! Organizei tudo e fechei a gaveta.
Abri a seguda. Nela estavam guardadas as pessoas que passaram pelo meu caminho e me ajudaram a construir minha história. Estavam todoas lá , papai, mamãe, meus irmãos, minha boa-dastra (haha), avós, tios, primos, amigos, namorados... vasculhando a gaveta, encontrei pessoas que eu já não me lembrava mais; foi tão gostoso me recordar delas! Organizei tudo novamente e fechei a gaveta.
Abri a terceira e ultima. Quando vi o que estava guardado naquela gaveta me deu um sensação ruim. Eu havia guardado naquela gaveta minhas tristezas,mágoas,raiva,inveja,medos e pessoas que haviam me feito sofrer. Era tanta coisa ruim, velha, suja, quebrada que me questionei : ''-pra que diabos eu fui guardar tudo isso?". Guardei talves como forma de proteção. Para não cometer os mesmos erros. Mas vi que aquilo tudo estava ocupando muito espaço dentro do armário. Sem pensar duas vezes peguei a gaveta, levei até o quintal e joguei tudo o que havia lá dentro no lixo! Não queria ter guardado dentro de mim o que me fazia mal. Voltei para o quarto. Coloquei a gaveta no lugar e a fechei.
Começei então a arrumar os cabides. Havia algumas coisas amarrotadas. Fui até a lavanderia, peguei o ferro de passar roupas e voltei para o quarto. Tirei tudo e começei a passar. Passei meus sonhos, minhas alegrias, minhas conquistas, minha fé e alguns outros sentimentos que estavam amassados. Depois de tudo passado, coloquei-as com cuidado nos cabides e as guardei no armário.
Passei então a tirar a poeira das prateleiras. Enquanto tirava o pó, encontrei alguns CDs velhos, me lembrei de várias músicas ( "- como o meu gosto musical havia mudado!"), encontrei também uns livros velhos, gastos, alguns amarelados, li rapidamente alguns trechos e me recordei das viajens que havia feito através deles; dos lugares e pessoas que eles haviam me apresentado. Coloquei tudo no lugar; os livros na prateleira de cima e os CDs na de baixo. Tudo estava em ordem. Foi então que percebi que havia uma caixinha caída no fundo do armário. Peguei-a com cuidado, pois havia um adesivo colado na tampa escritos: " FRÁGIL". Abri com mais cuidado, quando vi o que havia lá dentro, tive uma grande surpresa! Meus olhos se encheram d'gua e minhas mãos começaram a tremer. Naquela pequena caixa esquecida no fundo do armário estavam minha paz e o meu amor! Como eu havia me esquecido deles?! Como eu pude deixa-los dentro de uma caixa no fundo do meu armário?! Eu buscava uma explicação pro inexplicaval. Ha tanto tempo eu não os usava que eu havia me esquecido. Fiquei um bom tempo olhando para os ''objetos" dentro da caixa pra tentar me recordar quando foi a ultima vez que os havia usado. Não tive sucesso. Peguei-os então, tirei a poeira e guardei-os na terceira gaveta. NA TERCEIRA GAVETA ! Quanta ironia ! Guardei-os na mesma gaveta onde havia guardado tudo de ruim que uma pessoa pode sentir. Onde antes havia o mal , agora, abrigava o meu amor e minha paz!
Pronto!
Eu havia acabado a faxina. Olhei para o armário todo organizado, limpo e tive a sensação de dever cumprido. Agora mais nada me encomadava.
Fechei as portas do armário. Deitei na cama. Olhei pela janela . Vi que o dia havia clareado e o sol estava sorrindo pra mim . Sorri de volta.
Eu estava mais leve e só com um pensamento:
"- Preciso abrir mais a minha terceira gaveta! "


Priscila Rodrigues.


sábado, 10 de julho de 2010

O varal


Esperança é algo que já não tenho mais.
Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha fé . Voou Também. Nem vi. Venta tanto por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde, Já não sei o que vestir quando me convidam. Por isso nunca aceito. Fico em casa com satisfação. Vou até o quintal e aproveito o tempo para estender fotos, passados, sonhos. Tudo no mesmo varal. Só pra tirar o mofo, tomar um ar. Mas sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da minha história, Uma por uma. Tudo que eu amo desaparece.
Do quintal da minha casa nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, num cantinho, também tenha um varal. O seu varal. Onde não venta E devem estar pendurados : meu sorriso, minhas certezas, minha fé.
Quem sabe um dia bate um vento e, de tão forte, te faça trazer de volta o que sempre foi meu. E falta. No meu quintal. O tempo voa enquanto espero. Estendo a vida num varal. Esperança já não há. Voou sei lá pra onde. Nada fica firme por muito tempo. E venta muito por aqui.

_ O teatro mágico em palavras_